Nesta época de crise que todos atravessamos, recordamos Garrincha, personagem do conto “Natal” de Miguel
Torga, que se recusa a sucumbir à adversidade.
“Enxuto e quente, o Garrincha dispôs-se então a cear.
Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de...
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Nesta época de crise que todos atravessamos, recordamos Garrincha, personagem do conto “Natal” de Miguel
Torga, que se recusa a sucumbir à adversidade.
“Enxuto e quente, o Garrincha dispôs-se então a cear.
Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e
uma fatia de febra, e sentou-se.
Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de
consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela.
O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e
enchia depois a casa toda.
-É servida?
A Santa pareceu sorrir-lhe e o menino também.
E o Garrincha, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou,
dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.
- Consoamos aqui os três – disse, com a pureza e a ironia dum patriarca.
– A Senhora faz de quem é; o
pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S.
José.
”
Miguel Torga in “ Novos Contos da Montanha” (disponível na nossa Biblioteca)
A equipa da Bibl
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