A tecedeira de cabelos negros
Noite de Outono.
Sem um grito
Um corvo passa.
Kishi
Há muito, muito tempo, na cidade de Quioto, vivia um samurai que
estava casado com uma mulher bela, de bom coração, que era, além disso,
uma excelente tecedeira.
Quis o...
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A tecedeira de cabelos negros
Noite de Outono.
Sem um grito
Um corvo passa.
Kishi
Há muito, muito tempo, na cidade de Quioto, vivia um samurai que
estava casado com uma mulher bela, de bom coração, que era, além disso,
uma excelente tecedeira.
Quis o destino que o samurai perdesse o lugar que ocupava: o seu
senhor morreu e ele ficou a ser um guerreiro sem emprego, um ronin1.
Embora a mulher vendesse os tecidos, o dinheiro não chegava.
Não viviam
na pobreza, mas já não podiam manter o mesmo estatuto.
Cheio de
vergonha, o samurai desesperava-se.
Um belo dia embalou os seus haveres e pôs os sabres à cintura.
— Vou-me embora — disse ele à mulher.
— Isto não é vida para um
homem como eu! Não suporto esta desonra.
Arranja outro marido, que eu
vou procurar a sorte noutras paragens.
Lavada em lágrimas a mulher suplicou:
— Peço-te que não me abandones.
Hei-de tecer ainda mais e vender
cada vez mais!
1 Ser ronin consistia em viver peregrinando, ocupando-se de pequenos serviços,
norma
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